Marcelo Misailidis

Intitulada “Macuas”, a apresentação que abriu o desfile da chamada “Deusa da Passarela” mostrou a luta dos povos Malês, os negros muçulmanos trazidos ao país na escravidão, contra o domínio das pessoas brancas.

A hegemonia foi representada, na criação de Misailidis, por estátuas que imperavam sobre a repressão aos escravos pretos. A comissão de frente deu fim a esse processo histórico com a explosão da cabeça de uma dessas estátuas, feita de isopor: o efeito especial fazia com que um dançarino jovem e negro emergisse no lugar de um símbolo da chamada “branquitude”. A cena remete à derrubada e à depredação dos monumentos de colonizadores, senhores de escravos e supremacistas no branco (por aqui, o caso mais conhecido é o do bandeirante Borba Gato, cuja estátua, em São Paulo, foi incendiada em julho de 2021).

Toda a representação, feita por 15 componentes aparentes diante dos jurados e do público da Avenida, envolve um alemento alegórico que remete a um navio negreiro, estrutura na qual os escravos eram trazidos da África até os portos brasileiros. Do lado de fora da embarcação, ainda na alegoria da comissão de frente, Misailidis utilizou a areia do chão — em referência ao mar e às praias onde se costumava aportar — para que os dançarinos pudessem escrever a frase “Vidas Negras Importam”, uma referência ao movimento “Black Lives Matter”, que tomou conta dos EUA nos últimos anos e se espalhou por diversos países, incluindo o Brasil.

 

Fonte: O Globo